terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Os sons das nossas imagens...

Nas minhas manhãs de trabalho de campo, é muito frequente fazer uma pausa com a natureza, é uma pequeno intervalo que tiro só para estar ali, simplesmente estar e sentir.

Muitas vezes dou por mim a pensar “gostava de partilhar este som”...

Aqui na Lura, frequentemente partilhamos pequenos pedaços do nosso dia, através de fotografias do que achamos bonito, marcante ou simplesmente inesperado, mas o que oiço nestes momentos de pausa é tão bom e tão difícil de captar que hoje vou tentar partilhar com palavras.

Ora vejam lá se conseguem ouvir...

Quase sempre escolho sentar-me perto dos burros, gosto de ouvi-los a pastar, por isso o primeiro som que vos tenho de descrever é esse mesmo, o pastar dos burros, são os movimentos de puxar e cortar as ervas frescas, o mastigar mecânico mas suave e contínuo, que nos passa a sensação de prazer que eles próprios estão a ter ao comer ervas frescas, as patas que se deslocam vagarosamente e hoje pisam erva molhada fazendo um som de chapinhar na lama ligeiramente abafado pelas mesmas ervas; depois a brisa nos ouvidos, um vento leve que vai e vem, se fechar os olhos parece que esta brisa me faz sentir o deslocar das nuvens, que já levaram a chuva e deixam agora passar uns breves raios de sol; o chilrear de muitos pássaros pequenos que se instalam nas árvores que estão por trás de mim; o movimento mecânico e seco da apanha dos tomates na estufa dos vizinhos (aqui apanham-se os tomates um a um à mão, num movimento continuo e mecânico, por vezes ouvem-se as vozes dos trabalhadores a conversar entre si, mas de manhã, geralmente falam pouco e a cadência da apanha destes frutos é o que mais se ouve); de quando em vez, ouve-se um ou outro camião a passar na sua rota de distribuição, um carro aqui ou ali, o movimento fluido do transito não muito intenso na periferia da cidade; mais ao longe, ouvem-se os sinos das cabras e alguns mugidos de vacas que nos indicam que pastam ao ar livre, caminhando entre as árvores, caminhos e ervas; outro som que muitas vezes já nem tenho consciência de que estou a ouvir, são as nossas galinhas e os patos do vizinho, um cacarejar e grasnar tão constantes, com mais ou menos intensidade de acordo com a hora do dia, a luminosidade (e também a minha atenção), que por vezes nem tomo consciência que os estou a ouvir, tal é o hábito que acho que o meu cérebro já o interpreta como ruído de fundo inerente ao local...

E pronto, em breves minutos de pausa, com “perninhas à chinês”, sentada diretamente no chão, no meio da Lura, estes são os sons que me enchem a alma, para um dia que começa puro e simples e se torna cheio e produtivo.

Um bom dia para todos vós também!