Nas
minhas manhãs de trabalho de campo, é muito frequente fazer uma
pausa com a natureza, é uma pequeno intervalo que tiro só para
estar ali, simplesmente estar e sentir.
Muitas
vezes dou por mim a pensar “gostava de partilhar este som”...
Aqui
na Lura, frequentemente partilhamos pequenos pedaços do nosso dia,
através de fotografias do que achamos bonito, marcante ou
simplesmente inesperado, mas o que oiço nestes momentos de pausa é
tão bom e tão difícil de captar que hoje vou tentar partilhar com
palavras.
Ora
vejam lá se conseguem ouvir...

Quase
sempre escolho sentar-me perto dos burros, gosto de ouvi-los a
pastar, por isso o primeiro som que vos tenho de descrever é esse
mesmo, o pastar dos burros, são os movimentos de puxar e cortar as
ervas frescas, o mastigar mecânico mas suave e contínuo, que nos
passa a sensação de prazer que eles próprios estão a ter ao comer
ervas frescas, as patas que se deslocam vagarosamente e hoje pisam
erva molhada fazendo um som de chapinhar na lama ligeiramente abafado
pelas mesmas ervas; depois a brisa nos ouvidos, um vento leve que vai
e vem, se fechar os olhos parece que esta brisa me faz sentir o
deslocar das nuvens, que já levaram a chuva e deixam agora passar
uns breves raios de sol; o chilrear de muitos pássaros pequenos que
se instalam nas árvores que estão por trás de mim; o movimento
mecânico e seco da apanha dos tomates na estufa dos vizinhos (aqui
apanham-se os tomates um a um à mão, num movimento continuo e
mecânico, por vezes ouvem-se as vozes dos trabalhadores a conversar
entre si, mas de manhã, geralmente falam pouco e a cadência da
apanha destes frutos é o que mais se ouve); de quando em vez,
ouve-se um ou outro camião a passar na sua rota de distribuição,
um carro aqui ou ali, o movimento fluido do transito não muito
intenso na periferia da cidade; mais ao longe, ouvem-se os sinos das
cabras e alguns mugidos de vacas que nos indicam que pastam ao ar
livre, caminhando entre as árvores, caminhos e ervas; outro som que
muitas vezes já nem tenho consciência de que estou a ouvir, são as
nossas galinhas e os patos do vizinho, um cacarejar e grasnar tão
constantes, com mais ou menos intensidade de acordo com a hora do
dia, a luminosidade (e também a minha atenção), que por vezes nem
tomo consciência que os estou a ouvir, tal é o hábito que acho que
o meu cérebro já o interpreta como ruído de fundo inerente ao
local...
E
pronto, em breves minutos de pausa, com “perninhas à chinês”,
sentada diretamente no chão, no meio da Lura, estes são os sons que
me enchem a alma, para um dia que começa puro e simples e se torna
cheio e produtivo.
Um
bom dia para todos vós também!