terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Todos os bairros deviam ter um “Ti Firmino”!



Hoje venho falar de pequenos fazedores de milagres, de comerciantes que fazem muito mais do que vender.

Tenho que começar este artigo por referir um primeiro personagem, que fará parte desta história, por ter marcado o meu tempo de faculdade – O Sr. António – que era o talhante do bairro para onde fui viver sozinha essa aventura de tirar um curso superior.
O Sr. António, era efetivamente um Senhor. Foi com ele que aprendi a reconhecer as diferentes partes do porco, da vaca e outras carnes, a conhecer-lhes os nomes e a perceber o que sai mais barato e é igualmente bom. Foi naquele talho que partilhei receitas e foi ali que pela primeira vez comecei a reparar na importância que este pequeno comércio tem na vida social de um bairro. Aquele talho era um ponto de encontro; uma paragem para o velhote que vai cansado de subir a rua; o local da fofoca, mas também da solidariedade. O Sr. António conhecia o bairro inteiro, e, se a Sra do 3º esquerdo não aparecia à hora do costume, ele perguntava à vizinha se estaria tudo bem e se a resposta não fosse satisfatória, na primeira oportunidade ia lá bater à porta...

Agora estou em Faro e fiquei muito contente por saber que, também aqui, há um merceeiro de bairro, que tem este papel (possivelmente haverá mais, mas este é o que já conheço).
Passo a apresentar, é o Valter Firmino da mercearia “Ti Firmino” na Rua Ataíde Oliveira, conheço há pouco tempo e não sou uma cliente muito assídua, pois não vivo na cidade, quem é a cliente semanal é a minha mãe que mora bem perto.
Nesta loja além de se vender fruta de qualidade diretamente do produtor, também há este atendimento especial que só existe neste pequeno comércio de bairro.
Aqui, guardam-se aquelas bananinhas que “eu sei que a sua neta gosta” (bananas algarvias, tão, tão boas que depois destas a minha filha quando vê bananas grandes, diz “na é detas”), telefona-se a avisar que “hoje vou ao fornecedor buscar aquele presuntinho bom, quer que traga para si também”, e para mães solteiras que não têm tempo para ir ao supermercado, ou avós que já não podem sair todos os dias, vai entregar à porta, dá dois dedos de conversa e ainda leva o peixinho da loja ao lado se for preciso!

É por isto que digo, devia haver um “Ti Firmino” em todos os bairros.

Em vez das grandes superfícies e dos preços baixos que escondem (ou nem isso) a exploração humana e falta de condições de trabalho, vamos comprar nos “Sr. António”, nos “Moreno”, no “Zé da esquina” e “Ti Firminos” dos nossos bairros, sim talvez paguemos, por vezes, um pouco mais, mas ao fazê-lo estamos a garantir que estes serviços, estas pessoas, estes mimos não deixam de existir, estamos a valorizar um comércio mais humano, mais justo e assim também a fazer parte de uma sociedade mais humana.

E no seu bairro há um “Ti Firmino”?