Hoje
venho falar de pequenos fazedores de milagres, de comerciantes que
fazem muito mais do que vender.
Tenho
que começar este artigo por referir um primeiro personagem, que fará
parte desta história, por ter marcado o meu tempo de faculdade – O
Sr. António – que era o talhante do bairro para onde fui viver
sozinha essa aventura de tirar um curso superior.
O
Sr. António, era efetivamente um Senhor. Foi com ele que aprendi a
reconhecer as diferentes partes do porco, da vaca e outras carnes, a
conhecer-lhes os nomes e a perceber o que sai mais barato e é
igualmente bom. Foi naquele talho que partilhei receitas e foi ali
que pela primeira vez comecei a reparar na importância que este
pequeno comércio tem na vida social de um bairro. Aquele talho era
um ponto de encontro; uma paragem para o velhote que vai cansado de
subir a rua; o local da fofoca, mas também da solidariedade. O Sr.
António conhecia o bairro inteiro, e, se a Sra do 3º esquerdo não
aparecia à hora do costume, ele perguntava à vizinha se estaria
tudo bem e se a resposta não fosse satisfatória, na primeira
oportunidade ia lá bater à porta...
Agora
estou em Faro e fiquei muito contente por saber que, também aqui, há
um merceeiro de bairro, que tem este papel (possivelmente haverá
mais, mas este é o que já conheço).
Passo
a apresentar, é o Valter Firmino da mercearia “Ti Firmino” na
Rua Ataíde Oliveira, conheço há pouco tempo e não sou uma cliente
muito assídua, pois não vivo na cidade, quem é a cliente semanal é
a minha mãe que mora bem perto.
Nesta
loja além de se vender fruta de qualidade diretamente do produtor,
também há este atendimento especial que só existe neste pequeno
comércio de bairro.
Aqui,
guardam-se aquelas bananinhas que “eu sei que a sua neta gosta”
(bananas algarvias, tão, tão boas que depois destas a minha filha
quando vê bananas grandes, diz “na é detas”), telefona-se a
avisar que “hoje vou ao fornecedor buscar aquele presuntinho bom,
quer que traga para si também”, e para mães solteiras que não
têm tempo para ir ao supermercado, ou avós que já não podem sair
todos os dias, vai entregar à porta, dá dois dedos de conversa e
ainda leva o peixinho da loja ao lado se for preciso!
É
por isto que digo, devia haver um “Ti Firmino” em todos os
bairros.
Em
vez das grandes superfícies e dos preços baixos que escondem (ou
nem isso) a exploração humana e falta de condições de trabalho,
vamos comprar nos “Sr. António”, nos “Moreno”, no “Zé da
esquina” e “Ti Firminos” dos nossos bairros, sim talvez
paguemos, por vezes, um pouco mais, mas ao fazê-lo estamos a
garantir que estes serviços, estas pessoas, estes mimos não deixam
de existir, estamos a valorizar um comércio mais humano, mais justo
e assim também a fazer parte de uma sociedade mais humana.
E no
seu bairro há um “Ti Firmino”?