No
final de umas férias de carnaval, venho falar do tempo com os meus
filhos e de como venho descobrindo e redescobrindo com eles, a
importância do tempo de qualidade em família e individualmente com
cada um deles.
Pouco
tempo depois de ser mãe do meu primeiro filho, cruzei-me com um
livro do Psicólogo Quintino Aires, que li e recomendo, “15 minutos
com o seu filho”, confesso que quando o comecei a ler pensei “os
psicólogos são todos loucos, eu passo muito mais que 15 minutos por
dia com o meu filho, 15 minutos por dia! É louco, uma criança
precisa de muito mais!”, mas lendo mais um pouco e valorizando
melhor as suas palavras compreendi que isto do tempo com as crianças
tem muito mais que se lhe diga.
Sim,
até passamos muito tempo com os nossos filhos principalmente aos
fins-de-semana, mas será que estamos realmente com eles? É que a
questão não é o tempo em si, não são os 15 minutos por dia ou
por semana, não é estar fisicamente com eles, ou partilhar a mesma
divisão da casa, falando com o filhote entre outras coisas, a
questão é transformar algum tempo, num tempo mágico, em tempo de
qualidade e de partilha.
O
que são 15 minutos mágicos?
São
um tempo (não necessariamente 15 minutos, até porque também não é
bom estar a olhar para o relógio) em que chego ao pé do meu filho,
sento-me ao lado dele e digo, “já fiz o que tinha a fazer, agora
posso brincar contigo o que vamos fazer?”, confesso que nem sempre
é possível, isto não acontece todos os dias, porque é um tempo
exclusivo, em que o telefone não toca (de preferência fica
esquecido noutra divisão da casa, ou no silêncio), em que não vou
ver como está o jantar, nem dar um “jeito rápido à roupa
enquanto acabas isso”, nem nada, é o tempo de fazer o que ele
quer, agora já estamos na fase em que se escolhe um jogo e se joga a
dois (entrando mesmo na brincadeira e vibrando com as vitórias e
derrotas, como se também fosse uma criança, é tão bom!), mas
houve uma altura em que apenas ouvia histórias, ou recebia cócegas
(e fazia também), ou até simplesmente ficava sentada no sofá a dar
um colo porque era o que lhe apetecia.
Como
se torna possível?
Como
disse antes nem sempre é possível, e quando se tem o trabalho, dois
filhos, a casa e alguma vida social, torna-se complicado arranjar
sempre este tempo mágico para cada um dos filhos. Por isso, cá em
casa o mote é organização, uma boa organização em família ajuda
a ganhar tempo, ajuda a que tudo seja mais fácil e rápido,
inicialmente não foi fácil e ainda há dias em que chego ao final
do dia completamente exausta, mas com a prática e com a explicação
de que há um tempo para tudo (muitas vezes e com muita calma), o meu
mais velho já começa a respeitar melhor o tempo de trabalho dos
pais, porque sabe que vai existir o tempo para ele, inclusive
aprendeu que se ajudar nas tarefas de casa, estas fazem-se mais
rápido e assim o tempo com ele será maior e mais despreocupado
ainda. Cá em casa, o mais velho (agora com 6 anos) ajuda a pôr a
mesa, tem o seu avental ao lado do meu, porque é cada vez mais
frequente ajudar a fazer o jantar, ajuda a estender a roupa e agora
até já aceita ajudar a arrumar o que a irmã (que tem um ano)
desarrumou!
Tempo
em família é diferente do tempo mágico!
Além
do tempo que procuro dedicar a cada um dos filhos individualmente (eu
o pai, sim, que por vezes sou eu que tenho mais trabalho e é o pai
que oferece os momentos mágicos), existe também o tempo da família,
tempo em que nos obrigamos a estar todos (neste caso os quatro)
juntos, aqui também sem telefones nem interrupções, este é um
tempo diferente, em que temos de respeitar o espaço de cada um e
fazer algo que agrade a todos, normalmente acontece ao fim-de-semana
e é quando aproveitamos para fazer algo diferente e fora da rotina,
ou ver um filme todos juntos (nem sempre todos vêm tudo, pois a mais
pequena não fica tanto tempo sossegada), ou passear, ou jogar um
jogo de família, ou ir à praia ou a um parque infantil, ou uma
atividade cultural (quando há concertos infantis em que possamos
levar os dois, tentamos ir todos juntos),etc.
É
sempre tudo tão bonito e os resultados são claros?
Não!
Tudo o que escrevi antes é muito bonito e quando funciona é muito
bom, mas não tenho pretensões, os meus filhos não são perfeitos e
nós não somos pais perfeitos, nem sempre é possível por questão
de tempo, de organização mental ou mesmo por disponibilidade
psicológica, proporcionar estes momentos mágicos com a regularidade
que gostaríamos.
Por
vezes o dia passa tão rápido e as atividades são tantas que entre
trabalhos de casa, fazer o jantar, comer, tomar banho, lavar os
dentes, etc. não há tempo para mais nada e vai-se para a cama com a
sensação que não houve tempo para nada, e ouve-se “eu nem vi
bonecos, nem estiveste comigo...”. Outras vezes, até houve o tempo
mágico até parece que está tudo ótimo e mesmo assim, surge uma
birra ou um comportamento errado que nos soa a chamada de atenção e
damos por nós a pensar, “mas o que é que raio está a correr mal,
damos tanto e recebemos isto?”.
Mas
felizmente, com o passar dos anos, vamos melhorando a qualidade dos
nossos tempos, vamos explicando mais e melhor, vamos dando mais com
muito menos sentimento de que estamos a dar, torna-se natural e óbvio
e o que é facto é que enquanto família, cada vez funcionamos
melhor e nós pais também sentimos que ganhamos.
Os
momentos mágicos dos nossos filhos, muitas vezes, mas mesmo muitas,
também são mágicos para nós!
Deixo aqui também o vídeo que me inspirou a escrever esta mensagem.
Bons momentos, para todos!