sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

O desafio da bicicleta



Tudo começa com um filme inspirador, proposta do cineclube de faro e visto em boa companhia - “Demain”, de Cyril Dion e Mélanie Laurent, que recomendo vivamente.
No final do filme, um dos meus comentários foi: “Eh pá, até fiquei com vontade de ir comprar bicicletas para mim e para o meu companheiro”, e vai daí que uma tia cinco estrelas ao ouvir isto se saiu com: “tenho lá duas bicicletas paradas, não seja por isso, podes ir buscá-las que eu ofereço”.

Já imaginam o resto...

Fomos buscar as bicicletas. Ficámos maravilhados com o que encontrámos, são espetaculares e estão ótimas, umas afinações, primeiros testes e surge o desafio óbvio para 2017:

Poupar uma viagem de carro por dia!

Pois é, atualmente a rotina familiar cá por casa passa por ir de manhã a Faro e voltar, apenas para deixar os miúdos nas respetivas escolas. Portanto, o objetivo é esta viagem de ida e volta passar a ser feita de bicicleta.

Não somos totalmente loucos!

Queremos começar com um pequeno passo, que já implicará bastante esforço e dedicação.
O meu mais velho, terá o desafio de ir a pedalar para a escola (para ele será um percurso de cerca 20 minutos) e para isso, terá de passar por várias fases de adaptação, aprender a andar sem rodinhas (já está mesmo quase!) e começar a fazer percursos cada vez maiores, aprendendo as regras de segurança e de circulação na estrada. Sempre com a mãe ou o pai a acompanhar (autonomia sim, mas em segurança).
A mais pequena irá para escola numa daquelas cadeirinhas que se instalam na bicicleta do adulto, portanto aí o desafio é para nós, temos de ser capazes de ir a Faro e voltar em tempo útil e sem desfalecer pelo caminho...
Não vamos substituir completamente o carro. Ao fim do dia, as rotinas são mais complicadas e com horários apertados, por isso a bicicleta do mais velho voltará para casa de carro.

Já começámos os treinos:

O primeiro a aventurar-se foi o meu companheiro, foi numa destas tardes para Faro de bicicleta, fez o que tinha a fazer por lá durante cerca de uma hora e meia e voltou também pedalando. Ah, grande homem, aguentou-se heroicamente! No dia seguinte doíam algumas partes do corpo que não quero aqui explorar, mas a prova foi superada.

Ontem fui eu que encarei de frente o meu primeiro ciclo-desafio:

Depois de ver a aventura dele, resolvi ser mais comedida, propus-me apenas sair de casa e chegar à aula de Yoga em 40 minutos. E consegui!
No final da aula, estava efetivamente fora de questão voltar para casa de bicicleta. Assim, deixei a bicicleta na casa da mãe e tenciono fazer a viagem de regresso a pedalar, amanhã de manhã.

Foi uma experiência linda!

Voltar a andar de bicicleta é para mim muito importante, é um regresso à infância e a coisas muito boas vividas na companhia do meu pai. Mesmo sem pensar nisso a primeira coisa que fiz quando comecei a organizar as coisas para sair foi ir buscar duas tangerinas ao frigorífico, e quando comecei a pedalar e a descascar as ditas tangerinas, automaticamente vieram à memória os passeios nas estradas de terra batida com o meu pai, onde se parava para apanhar e comer uma laranjinha da árvore do vizinho (outros tempos, agora os laranjais estão quase todos vedados). E curtindo estas boas memórias, lá fui comendo a minha tangerina e pedalando a caminho de Faro.
Rapidamente começam as sensações diferentes do habitual, o inicial frio gélido na cara (afinal estamos no inverno), o esforço físico, a estrada que de carro até parece plana, mas afinal “bolas, que isto é a subir”, mas também uma visão e perspetiva bem diferente da paisagem.

De bicicleta há tempo para olhar e ver!

Num percurso de 40 minutos, voltei a relembrar e sentir alguns dos cheiros característicos do campo nesta altura do ano, vi com outros olhos e outra calma zonas de pomar e terrenos baldios, pequenas flores na beira da estrada, reparei na quantidade de plantas comestíveis que crescem por aí espontaneamente (Acelgas então, conhecendo era mesmo só ter disponibilidade para ir apanhar...), e já com mais de meio caminho percorrido, na entrada de Faro, a paisagem é Linda!

Tenho que subir um viaduto, e custa, se custa...

Aqui as pernas vacilaram e as mudanças foram fundamentais, mas quando se chega ao topo, olhando em frente, a vista sobre a ria é qualquer coisa de fenomenal, o Farol ao fundo, o sapal e as salinas, é tão bonito! E quando tudo isto já fez valer a pena subir, começa a descida. Descer é maravilhoso, volta o frio na cara, mas a sensação de liberdade, de conquista e superação (eh, eh, consegui subir, agora posso descer...) são maravilhosas.

Portanto, o desafio da bicicleta, será encarado de frente, com um sorriso feliz e muita motivação!

Afinal só temos a ganhar:
- poupamos em gasolina,
- poupamos o ambiente,
- passamos a praticar exercício físico regularmente,
- aproveitamos melhor a natureza que nos rodeia,
- etc.

E posto isto, considerando que este desafio também é para mim um regresso à infância, e que ouço muita música infantil no meu dia-a-dia, aqui fica a música que me veio à cabeça quando comecei a escrever este post: