Sempre
achei que devemos lutar por tudo o que acreditamos, por isso, sempre
tive uma vida socialmente ativa, quer através da participação em
movimentos associativos e/ou partidários, quer no envolvimento em
momentos de luta na defesa de direitos que considero fundamentais.
De
certo modo, penso que a minha mudança de vida (sair da grande cidade
onde dava aulas em escolas públicas e privadas, para vir abrir uma
quinta pedagógica de dimensão familiar assente em valores e
princípios que considero fundamentais), é também o reflexo disso
mesmo, de uma necessidade de fazer aquilo em que acredito, ser fiel
aos meus princípios e promover uma educação com regras, respeito,
consciência cívica e ambiental.
Gosto
muito do meu trabalho...
Sinto-me
realizada todos os dias e mesmo quando sinto que não consigo fazer
tudo o que queria ou chegar a tantos quantos gostaria, não penso em
desistir, penso em novas formas de o fazer, em modos de melhorar,
quer a mensagem pedagógica quer as formas de concretização das
mesma.
Para
passar uma mensagem, para ajudar a construir algo melhor, tenho que
estar bem!
Por
isso, e porque não tenho propriamente um horário de trabalho
pré-definido, nem dias de descanso fixos (pois como sabem, trabalho
durante a semana com visitas e terapias e aos fins de semana e
feriados com terapias, festas e o que vai surgindo, além da rotina
diária de manutenção da quinta...), decidi já há algum tempo,
tirar um dia para mim. Uma vez por semana tenho um dia para cuidar de
mim, um dia para fazer bem a mim.
E o
que faço no meu “dia de mim”?
Poderiam
pensar que será o dia em que fico na cama até mais tarde, ou que
aproveito para pôr a casa em ordem, ou ainda que aproveito para
ficar no sofá a ver qualquer coisa na televisão ou navegar na
internet...
Nada
disso!
O
meu dia de mim, é um dia com horários como todos os outros, com
rotina e compromissos, mas é o dia em que cuido da alma, pratico
Yoga, tenho um tempo reservado para “café com amigos”, almoço
em família, escrevo ou pinto e faço voluntariado.
Sim,
dedico duas horas do meu dia a trabalhar voluntariamente!
Trabalho
e não me pagam, faço isto de forma regular, não só porque
acredito na causa (neste caso, o combate ao desperdício alimentar,
aproveitando para garantir a alimentação a quem dela precisa) mas
também porque isso me faz bem.
O
trabalho voluntário tem essa coisa boa que é o facto de que todos
os que o fazem o fazem de livre e espontânea vontade, sem pressões
e sem contrapartidas.
Sou
voluntária no Re-food...

E
com tudo isto, com a mudança de estilo de vida, com o trabalho
voluntário, com as voltas que as vidas vão dando à minha volta,
cada vez compreendo mais e me faz mais sentido um dos princípios
(Niyama) do Yoga - “Ísvara Pranídhana”, que significa em
português (espero não estar a cometer nenhum erro ou incorreção)
o desapego do resultado das ações, ou como dizia muitas
vezes uma muito querida professora de Yoga, “é o dar sem esperar
receber nada em troca”.
E
cada vez me faz mais sentido, porque cada vez mais sinto que quando
faço as coisas, de livre e espontânea vontade, porque acredito no
que estou a fazer, porque me faz sentido ou simplesmente porque me
apetece, as coisas correm melhor e ganham uma importância diferente.
Digamos que, quando fazemos algo porque realmente acreditamos no que
estamos a fazer e não simplesmente porque justifica o nosso ordenado
ao fim do mês, o nosso empenho é diferente, o esforço é diferente
e quando algo corre mal, conseguimos mais facilmente relativizar,
olhar à volta e encontrar o erro (ou não), compreender que se
calhar não era exatamente aquilo que devíamos fazer, ou daquela
forma e acima de tudo quando fazemos sem esperar reconhecimento, ou
tentando criar o mínimo de expectativas possível, quando as coisas
acontecem, quando há um reverso da medalha e a vida nos corre bem,
sabe tão bem!!!!
“Cada
segundo é tempo para mudar tudo para sempre!”
Charles
Chaplin