quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Voluntariado: dádiva e bem-estar pessoal



Sempre achei que devemos lutar por tudo o que acreditamos, por isso, sempre tive uma vida socialmente ativa, quer através da participação em movimentos associativos e/ou partidários, quer no envolvimento em momentos de luta na defesa de direitos que considero fundamentais.
De certo modo, penso que a minha mudança de vida (sair da grande cidade onde dava aulas em escolas públicas e privadas, para vir abrir uma quinta pedagógica de dimensão familiar assente em valores e princípios que considero fundamentais), é também o reflexo disso mesmo, de uma necessidade de fazer aquilo em que acredito, ser fiel aos meus princípios e promover uma educação com regras, respeito, consciência cívica e ambiental.

Gosto muito do meu trabalho...

Sinto-me realizada todos os dias e mesmo quando sinto que não consigo fazer tudo o que queria ou chegar a tantos quantos gostaria, não penso em desistir, penso em novas formas de o fazer, em modos de melhorar, quer a mensagem pedagógica quer as formas de concretização das mesma.

Para passar uma mensagem, para ajudar a construir algo melhor, tenho que estar bem!

Por isso, e porque não tenho propriamente um horário de trabalho pré-definido, nem dias de descanso fixos (pois como sabem, trabalho durante a semana com visitas e terapias e aos fins de semana e feriados com terapias, festas e o que vai surgindo, além da rotina diária de manutenção da quinta...), decidi já há algum tempo, tirar um dia para mim. Uma vez por semana tenho um dia para cuidar de mim, um dia para fazer bem a mim.

E o que faço no meu “dia de mim”?

Poderiam pensar que será o dia em que fico na cama até mais tarde, ou que aproveito para pôr a casa em ordem, ou ainda que aproveito para ficar no sofá a ver qualquer coisa na televisão ou navegar na internet...

Nada disso!

O meu dia de mim, é um dia com horários como todos os outros, com rotina e compromissos, mas é o dia em que cuido da alma, pratico Yoga, tenho um tempo reservado para “café com amigos”, almoço em família, escrevo ou pinto e faço voluntariado.
Sim, dedico duas horas do meu dia a trabalhar voluntariamente!
Trabalho e não me pagam, faço isto de forma regular, não só porque acredito na causa (neste caso, o combate ao desperdício alimentar, aproveitando para garantir a alimentação a quem dela precisa) mas também porque isso me faz bem.
O trabalho voluntário tem essa coisa boa que é o facto de que todos os que o fazem o fazem de livre e espontânea vontade, sem pressões e sem contrapartidas.

Sou voluntária no Re-food...

E adoro aquelas duas horas, são apenas duas horas semanais que me fazem sentir mais útil à sociedade, onde conheço pessoas novas e vou aprendendo a lidar com diferentes feitios e formas de trabalhar, onde faço o que é preciso quando é preciso, onde é tão importante lavar loiça, como “passear” de bicicleta ou preparar refeição equilibradas para famílias distintas com gostos e intolerâncias diversas.

E com tudo isto, com a mudança de estilo de vida, com o trabalho voluntário, com as voltas que as vidas vão dando à minha volta, cada vez compreendo mais e me faz mais sentido um dos princípios (Niyama) do Yoga - “Ísvara Pranídhana”, que significa em português (espero não estar a cometer nenhum erro ou incorreção) o desapego do resultado das ações, ou como dizia muitas vezes uma muito querida professora de Yoga, “é o dar sem esperar receber nada em troca”.
E cada vez me faz mais sentido, porque cada vez mais sinto que quando faço as coisas, de livre e espontânea vontade, porque acredito no que estou a fazer, porque me faz sentido ou simplesmente porque me apetece, as coisas correm melhor e ganham uma importância diferente. Digamos que, quando fazemos algo porque realmente acreditamos no que estamos a fazer e não simplesmente porque justifica o nosso ordenado ao fim do mês, o nosso empenho é diferente, o esforço é diferente e quando algo corre mal, conseguimos mais facilmente relativizar, olhar à volta e encontrar o erro (ou não), compreender que se calhar não era exatamente aquilo que devíamos fazer, ou daquela forma e acima de tudo quando fazemos sem esperar reconhecimento, ou tentando criar o mínimo de expectativas possível, quando as coisas acontecem, quando há um reverso da medalha e a vida nos corre bem, sabe tão bem!!!!


“Cada segundo é tempo para mudar tudo para sempre!”

Charles Chaplin